A pressão social sobre os pais das crianças "condicionais"! Como decidir?
Este é um assunto recorrente. Todos os anos temos na turma crianças "condicionais" à existência de vaga nas turmas de 1º ciclo e todos os anos temos famílias angustiadas, sem saber bem o que fazer... A escolha é difícil, também eu fui uma criança "condicional", a minha filha é uma criança "condicional" e por isso é um tema vivido na primeira pessoa.
Metafóricamente, qual é a "porta" que devemos abrir? Aquela que nos permite permanecer no pré-escolar durante mais um ano letivo ou aquela que nos leva ao 1º ciclo?
Como pais, quem nos pode ajudar a decidir?
A pressão social - Filtrar a informação
O que me acontece habitualmente, como Educadora, é ouvir alguns dos seguintes comentários:
- "Se os outros vão, o(a) meu(minha) filho(a) também vai!";
- "O primo vai para a escola e por isso o meu filho também vai";
- "Antigamente também íamos e não tinha problema nenhum";
- "Porque é que vai reprovar?";
- "Eu até nem queria que fosse (para o 1º ciclo) mas o pai e os avós acham que deve ir..."
Habitualmente, pessoas que não são especialistas na matéria, que não estudaram nada sobre o assunto, nem têm a mínima noção das consequências que podem advir de uma entrada precoce num 1º ciclo, decidem opinar apenas porque sim, porque têm ou tiveram filhos da mesma idade ou já se encontraram na mesma situação. Cada criança é única e deve ser tratada como tal. Apenas porque não correu muito mal com alguns, não significa que seja benéfico para todos ou que a criança se sinta realizada. Ora... Neste caso, a opinião dos "outros não especialistas", não deve ser considerada relevante a não ser que fundamentem pedagogicamente a sua opinião ou com base em estudos científicos... De qualquer forma, os pais são quem melhor conhece os filhos (ou pelo menos deveriam ser) e a decisão é inteiramente sua.
Decisões conscientes
Devemos ter a capacidade para tomar decisões e assumir as nossas escolhas de forma consciente, apesar desta "pressão social" que ainda existe, pois como adultos, temos a enorme responsabilidade de decidir sobre a vida de uma criança. Se fossemos todos iguais e o desenvolvimento não divergisse, aos 30 ou 40 anos continuaríamos a ser avaliados pela mesma grelha e ter todos o mesmo resultado em função da idade cronológica... E não temos, pois não? Nem todos fazemos o pino, andamos de patins, fazemos crochet e damos cambalhotas.
O percurso escolar não é uma corrida
Mais importante do que a "ESCOLA", é o bem-estar físico e psicológico das crianças. Não somos todos iguais nem nos desenvolvemos ao mesmo ritmo e é por isso que devemos ponderar sobre o que vamos impor às "nossas" crianças com um início da escolaridade obrigatória antes mesmo de completar os 6 anos de idade. O percurso escolar não é uma corrida para ver quem chega mais cedo à meta... Ou pelo menos, não deveria ser.
Evitar o "estigma" - vantagens das turmas mistas no pré-escolar
Por experiência profissional, já lá vão 24 anos, no que se refere a este assunto, considero que as turmas de idades mistas têm maiores vantagens para as crianças que nascem nos últimos meses do ano, uma vez que podem permanecer com alguns pares de referência (caso optem por permanecer no pré-escolar),evitando o "estigma" social ao serem aqueles que ficam e erradamente conotados como menos capazes. As turmas de pré escolar com crianças do mesmo ano de nascimento, transitam habitualmente quase em bloco para o 1º ciclo, fazendo com que as crianças que não transitam, tenham que integrar uma nova turma.
Olhar para a criança
Em suma, torna-se relevante observar a criança em todas as áreas e domínios de desenvolvimento e perceber se o seu ritmo lhe permitirá passar de uma fase concreta a uma fase de conceitos abstratos, se estará disponível para se adaptar e sentir confortável num novo plano de desenvolvimento com novos desafios. Importa perceber se estará disposta a permanecer 25h letivas semanais em trabalho orientado, num modelo de escola que, na minha humilde opinião, ainda não se encontra preparado para respeitar a criança como indivíduo único, nem a sua liberdade de movimento ou um pensamento divergente.
Habitualmente, ainda se adicionam 5 horas de AEC (atividades de enriquecimento curricular), perfazendo 30h de "trabalho", às quais muitas das vezes se acrescentam TPC marcados por alguns professores (continuo sem perceber as vantagem dos tpc's mas será tema de outro post), tempo de ATL (porque os horários das famílias raramente coincidem com os da escola) e atividades extracurriculares.
Qualquer que seja a decisão das famílias, que seja refletida e não se baseie na "pressão social" pois a infância não se repete! Agora, que se abram as portas mais adequadas a cada um(a) e que desta forma se possa proporcionar um maior entusiasmo pela aprendizagem e felicidade às crianças, para que o seu crescimento/desenvolvimento e percurso escolar seja natural e harmonioso 👩
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