Mais um domingo e eu sem vontade de ir à missa...

Nunca fui contemplada com uma aparição divina! Daquelas que todos já ouvimos falar, sabem? Aquelas que acontecem à sombra de uma árvore ou aparecem numa borra de café... Talvez eu não mereça, talvez não existam... Não sei, nunca vi! 

Também não consigo perceber ou falar de Deus naquele tom angelical, calmo e sereno (ou em tom de piedade bacoca) que frequentemente se ouve pelas igrejas, repletas de gente que se acha o exemplo a seguir, ou "cristão modelo" (se é que isso existe)... Bem, que se acham a última bolacha do pacote. Outros, que seguem e cumprem tudo sem questionar (às vezes só lá vão para ver as modas e ouvir a música) porque "sempre foi assim"...

Não tenho perfil para fazer de conta que sou alguém que não sou, para fingir que gosto quando não gosto ou de marcar presença física quando a mente não quer lá estar. 

Talvez seja por isso que cada vez me sinto mais distante dessa realidade, da Igreja tradicional. A minha mente fervilha de ideias, opiniões, reflexões, contradições e não encontro lá (na Igreja) um lugar onde me possa encaixar plenamente. Esta luta interna cansa-me! Muitas vezes não permanece interna e extravasa para paravras, o que pode ser problemático para quem possa ouvir e por algum motivo tem dificuldade em respeitar diferenças de opinião. 

Consigo ter paz noutros momentos, como na reflexão, na leitura, na contemplação, na relação com os outros e com a natureza. 

Admito que não sei porque é que Deus só me permite vê-lo em coisas banais que acontecem no dia-a-dia... Mas confesso que é mesmo assim que eu gosto d'Ele, simples, claro, visível e sincero! 

Vejo-O nos olhos da minha filha! 

Vejo-O quando estou com minha família e no tempo que com eles passo! 

Vejo-O na minha vida, ao acordar todos os dias! 

Vejo-O na inocência, nas gargalhadas e no sorriso das "minhas crianças".

Vejo-O em todas as maravilhas da natureza, do nascer ao pôr do sol (e até na trovoada!!)!

Vejo Deus no tempo que temos para viver!

Vejo-O em todos os actos de bondade e solidariedade!

Vejo-O no Papa Francisco!

Vejo-O na força para tomar decisões! 

Vejo-O na capacidade de resiliência! 

Vejo-O em  também nas outras religiões...

Não acredito que Deus seja exclusivamente dos cristãos católicos. Não, algo tão poderoso e tão belo tem que ser partilhado, respeitando as diferenças e perspectivas de cada um. 

Às vezes, também me zango com Deus, sobretudo quando alguém que amo muito deixa de viver no mundo terreno e passa a viver apenas no meu coração e nas minhas memórias. No entanto, tendo a perdoar pois acredito que também pode não ser culpa sua... 

Morrer é uma vicissitude de sermos simplesmente humanos. 

Lamento não ver Deus apenas dentro dos espaços dedicados ao culto, nas orações decoradas, nos rituais ancestrais, que foram sendo criados e adaptados pelo Homem ao longo dos tempos, sem que por isso se tenham ajustado às necessidades das famílias de Hoje. 

É o Deus que eu vejo, em toda a parte, que gostaria que a minha filha visse um dia.

Um Deus de Amor e de liberdade que não olha a posição social, a raças, fronteiras ou religiões... 

Um Deus que se vê nos mais pequenos detalhes do quotidiano e se sente em cada gesto, em cada abraço, em cada sopro de vida, em cada memória... Um Deus de Amor, que ama e que dá, sem pedir nada em troca.

E uma esperança numa Igreja que cative pelo amor e não pela obrigação ou castigo! 

Numa Igreja que nos acolha mais e nos julgue menos. 

Numa Igreja que se assemelhe mais a uma "casa de um Pai" do que a uma feira de vaidades.

Numa Igreja que nos olhe a todos como iguais, independentemente daquilo que vestimos, que temos, que damos ou profissão que exercemos.

Numa Igreja que não tenha folhas de presenças. 

Numa Igreja que perceba que o tempo que temos para nós, para nos amar-mos também a nós próprios e para a nossa família é o mais importante desta vida. Que os tempos mudaram e que o sentimento de "comunidade" é volátil. 

Numa Igreja que se coloque abaixo das famílias numa hierarquia de prioridades... 

Numa Igreja que compreenda que Deus também não cabe entre 4 paredes!

É só isto... Por hoje! 

Porque hoje, também não me apetece ir à missa. 

Comentários

Graciela disse…
Então não vá, mas respeite os que vão pois para mim acho que quem se acha a última bolacha do pacote é você! Para que conste sou Graciela Fernandes, mãe e avó que muito ama a sua família e que gosta de ir à missa para se encontrar com a Amigo verdadeiro que nunca me abandona e a quem agradeço pelo dom da Vida
Ina Marques disse…
Cara Senhora, a minha mensagem é para os fariseus dos tempos de hoje. Respeito quem vai mas não suporto que se dirijam a mim "em nome de Deus" quando estão podres por dentro, quando circulam dentro da Igreja (comunidade) com os seus próprios interesses. Pelo seu comentário depreendo que não tenha compreendido a mensagem, lamento... Ainda lamento mais que cada vez me reveja menos nesta Igreja de fariseus. Que Deus nos abençoe com mais "Padres Guilhermes" que consegue chegar aos nossos corações como Padre e como DJ. Que Deus a abençoe com bom senso e menos beatice!

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