A pressão social sobre os pais das crianças "condicionais"! Como decidir?

Este é um assunto recorrente. Todos os anos temos na turma crianças "condicionais" à existência de vaga nas turmas de 1º ciclo e todos os anos temos famílias angustiadas, sem saber bem o que fazer...  A escolha é difícil, também eu fui uma criança "condicional", a minha filha é uma criança "condicional" e por isso é um tema vivido na primeira pessoa.

Metafóricamente, qual é a "porta" que devemos abrir? Aquela que nos permite permanecer no pré-escolar durante mais um ano letivo ou aquela que nos leva ao 1º ciclo? 

Como pais, quem nos pode ajudar a decidir?


Opinião do(a) Educador(a)
Por esta altura, já todas as familias terão tomado as suas decisões para o ano letivo que se inicia e por isso esta opinião não irá influir em nada as suas opções. Qualquer que seja a escolha que tenham feito, está feita! Quero acreditar que foi refletida e a pensar no superior interesse da criança. Espero que tenham escutado a opinião o(a) Educador(a) que acompanha a criança, pesado os prós e os contras e percebido que não é por se ser menos ou mais inteligente do que os outros, que por vezes se aconselha a permanecer (ou não) mais um ano no jardim-de-infância. 
A transição para o 1º ciclo não se baseia no QI. Não é por já saber escrever letras ou saber somar 2 + 2 que a criança se encontra preparada para enfrentar um novo desafio. E também não é por não se saber nada de letras e números que a criança não se encontra "preparada".

Consultar um(a) Psicólogo(a)
Quando os pais têm dúvidas, antes da fase de inscrições ou até de criar a expectativa na criança de que irá seguir para um 1º ciclo, pode fazer toda a diferença consultar um(a) psicólogo(a) que contribua para o esclarecimento das questões mais pertinentes para cada família, uma vez que este é um assunto muito importante. Frequentemente, existem psicólogos nas escolas que podem colaborar gratuitamente com as famílias nestas situações.
As respostas não são lineares e integram diferentes variáveis tais como o desenvolvimento global da criança, contexto familiar, contexto social, o modelo de escola, entre outros. 
Nem sempre estamos de acordo com a opinião do(a) Educador(a) ou do(a) pediatra, daí que se deva procurar uma opinião especializada, neutra. 

A pressão social - Filtrar a informação

O que  me acontece habitualmente, como Educadora, é ouvir alguns dos seguintes comentários:

- "Se os outros vão, o(a) meu(minha) filho(a) também vai!";

- "O primo vai para a escola e por isso o meu filho também vai";

- "Antigamente também íamos e não tinha problema nenhum";

- "Porque é que vai reprovar?";

- "Eu até nem queria que fosse (para o 1º ciclo) mas o pai e os avós acham que deve ir..."

Habitualmente, pessoas que não são especialistas na matéria, que não estudaram nada sobre o assunto, nem têm a mínima noção das consequências que podem advir de uma entrada precoce num 1º ciclo, decidem opinar apenas porque sim, porque têm ou tiveram filhos da mesma idade ou já se encontraram na mesma situação. Cada criança é única e deve ser tratada como tal. Apenas porque não correu muito mal com alguns, não significa que seja benéfico para todos ou que a criança se sinta realizada. Ora... Neste caso, a opinião dos "outros não especialistas", não deve ser considerada relevante a não ser que fundamentem pedagogicamente a sua opinião ou com base em estudos científicos... De qualquer forma, os pais são quem melhor conhece os filhos (ou pelo menos deveriam ser) e a decisão é inteiramente sua.

Decisões conscientes

Devemos ter a capacidade para tomar decisões e assumir as nossas escolhas de forma consciente, apesar desta "pressão social" que ainda existe, pois como adultos, temos a enorme responsabilidade de decidir sobre a vida de uma criança. Se fossemos todos iguais e o desenvolvimento não divergisse, aos 30 ou 40 anos continuaríamos a ser  avaliados pela mesma grelha e ter todos o mesmo resultado em função da idade cronológica... E não temos, pois não? Nem todos fazemos o pino, andamos de patins, fazemos crochet e damos cambalhotas.

O percurso escolar não é uma corrida

Mais importante do que a "ESCOLA", é o bem-estar físico e psicológico das crianças. Não somos todos iguais nem nos desenvolvemos ao mesmo ritmo e é por isso  que devemos ponderar sobre o que vamos impor às "nossas" crianças com um início da escolaridade obrigatória antes mesmo de completar os 6 anos de idade. O percurso escolar não é uma corrida para ver quem chega mais cedo à meta... Ou pelo menos, não deveria ser.

Evitar o "estigma" - vantagens das turmas mistas no pré-escolar

Por experiência profissional, já lá vão 24 anos, no que se refere a este assunto, considero que as turmas de idades mistas têm maiores vantagens para as crianças que nascem nos últimos meses do ano, uma vez que podem permanecer com alguns pares de referência (caso optem por permanecer no pré-escolar),evitando o "estigma" social ao serem aqueles que ficam e erradamente conotados como menos capazes. As turmas de pré escolar com crianças do mesmo ano de nascimento,  transitam habitualmente quase em bloco para o 1º ciclo, fazendo com que as crianças que não transitam, tenham que integrar uma nova turma.

Olhar para a criança

Em suma, torna-se relevante observar a criança em todas as áreas e domínios de desenvolvimento e perceber se o seu ritmo lhe permitirá passar de uma fase concreta a uma fase de conceitos abstratos, se estará disponível para se adaptar e sentir confortável num novo plano de desenvolvimento com novos desafios. Importa perceber se  estará disposta a permanecer 25h letivas semanais em trabalho orientado, num modelo de escola que, na minha humilde opinião, ainda não se encontra preparado para respeitar a criança como indivíduo único, nem a sua liberdade de movimento ou um pensamento divergente.



Habitualmente, ainda se adicionam 5 horas de AEC (atividades de enriquecimento curricular), perfazendo 30h de "trabalho", às quais muitas das vezes se acrescentam TPC marcados por alguns professores (continuo sem perceber as vantagem dos tpc's mas será tema de outro post), tempo de ATL (porque os horários das famílias raramente coincidem com os da escola) e atividades extracurriculares.

Qualquer que seja a decisão das famílias, que seja refletida e não se baseie na "pressão social" pois a infância não se repete!  Agora, que se abram as portas mais adequadas a cada um(a) e que desta forma se possa proporcionar um maior entusiasmo pela aprendizagem e felicidade às crianças, para que o seu crescimento/desenvolvimento e percurso escolar seja natural e harmonioso 👩


Os cartoons foram retirados destes 2 livros de Francesco Tonucci, que moram cá em casa há muitos anos!


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