Mas afinal, qual o benefício da abertura dos jardins-de-infância para a maioria das crianças nesta altura?


Atrevo-me a responder... Nenhum!

Sempre fui pessoa de "agarrar o touro pelos cornos" e de enfrentar os desafios de frente, sem medos... Mas tenho aprendido algo ao longo da vida, prudência! 

Recordo muitas vezes uma questão que se levantava enquanto frequentava o curso de intervenção familiar e sistémica: é a família que precisa do terapeuta ou o terapeuta que precisa da família? 

Não consigo compreender a decisão de abrir os estabelecimentos públicos por 17 dias lectivos... No entanto, percebo que o negócio dos privados force decisões destas. Ou seja, é a escola que precisa dos alunos e não é oferecida outra opção aos pais que não têm com quem os deixar. 

A educação pré-escolar é a mais valiosa e que mais influencia o desenvolvimento, por abranger um período sensível de maior aprendizagem da criança mas não é obrigatória. No entanto, há uma parte significativa das aprendizagens que deve ser feita em família, se houver tempo e disponibilidade. 

Sempre defendi que as famílias deveriam ter mais tempo para estar com os filhos e espero sinceramente que se reduzam os "horários de trabalho" das crianças nas escolas a partir de Setembro. É tempo de mudar paradigmas e de apoiar as famílias na educação dos filhos em vez de as substituir nas suas funções. 

Sinceramente, com as medidas impostas só me vem à ideia a transformação das escolas em espaços assépticos sem lugar para interacções espontâneas que tanto caracterizam esta faixa etária.  Ou para a distância da relação entre escolas e famílias, que a partir de agora ficarão à porta! 

Não julgando, preocupam-me ainda que aqueles professores que, fazendo parte de grupos de risco, considerem um acto "heróico" e de grande altruísmo o regresso às escolas, alegando que não têm medo do vírus, o que só revela inconsciência das consequências dos seus actos a nível familiar, social e até económico para o país. 

O mais importante na vida é isso mesmo, a Vida, que só vale a pena ser vivida com saúde! 

Das últimas vezes que falei com a minha querida Tita (já com uma insuficiência respiratória grave) recordo as palavras dela "isto não é viver". E quis o destino que o meu querido Neca partisse para junto dela por causa do maldito COVID19. Tenho saudades deles, mas recordações maravilhosas! 

Este momento não é o de julgar as decisões dos outros mas de reflectir sobre os nossos actos e do impacto que terão sobre quem está próximo de nós. 

Existe uma razão para afastar os grupos de risco do contacto directo com o público, prevista na lei, pois serão mais vulneráveis e propensos a necessitar de tratamento hospitalar. Em vez de quererem ser "heróis", pensem no que a vida significa, do que poderá acontecer num pior cenário. 

E eu? Sim, tenho medo do vírus! Porque não conheço o inimigo e é algo que não posso controlar. Tenho medo de ficar longe dos que amo, tenho medo de não conseguir respirar (porque a asma se encarrega de me lembrar de quão importante é respirar bem), tenho medo de não poder aproveitar as pequenas coisas da vida e de não poder estar presente para quem mais precisa de mim. 

Sou filha, irmã, esposa e Mãe, antes de ser profissional. Como dizia o Grande Chefe Mundial, Baden Powell, o nosso dever começa em casa!

Todas as crianças com quem tenho falado estão felizes em casa e no meu entender, mais seguras. Porquê colocá-las em risco e em stress por 17 dias úteis?

Preparemos as escolas para Setembro! Façamos investimentos em escolas com modelos educativos diferentes, mais livres, mais abertas, mais verdes, com mais natureza, com menos crianças por turma... 

Libertem os colegas com mais de 60 anos para outras funções e procuremos criar escolas um pouco menos assépticas do que nos pedem actualmente... 

Comentários

Unknown disse…
Nao sendo educadora profissional,sendo apenas Mae,Avo, e educadora como tal,subscrevo inteiramenta o que o texto diz!Primeiro a saúde, depois a educação,estando a falar de Todos, os nossos meninos(futuros adultos)querem-se educados, felizes mas sobretudo saudáveis,e isso por enquanto é da nossa responsabilidade!
Sou educadora, 39anos serviço, avó...Espero que o vírus tenha reaberto o vínculo de filho Pais,saudades dos avós. Que os Pais tenham redescoberto o filho, que faz as suas traquinices , mas é isso que vai ficar sempre na memória, senão vão pagar caro quando precisarem da ajuda deles.

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