Nem só de E@D vivem as crianças. Não desperdicemos o tempo da infância!

De um dia para o outro fomos literalmente mandados para casa. Parques fechados, marginais fechadas, visitas aos avós canceladas... Logo no início, a pequena perguntou se podia levar um cão de brincar (daqueles que se vendem nas feiras) à rua. Não temos cão a sério. Dizia ela que ninguém iria notar e assim davamos um passeio. Percebeu que com um cão, talvez tivesse mais oportunidades de circulação. 

A verdade é que se escutássemos mais vezes as crianças, compreenderiamos que vivem a um ritmo completamente diferente do nosso. Às crianças, tanto importa aprender todo o currículo do 1° ano ou só metade ou até 1/4 do que alguns adultos decidiram que as crianças deveriam saber em determinada idade.

Às crianças interessa a liberdade, o recreio, as brincadeiras! Desafio-vos a perguntar a qualquer criança pequena, o que mais gostam nas suas escolas. 

Nós somos daqueles que têm sorte no confinamento, com equipamento lúdico disponível, amplo espaço exterior, entre o rio, o monte e o mar. E, um ou outro vizinho para brincar. Vantagens de viver numa cidade costeira pequena... 

Quando ouço pais e professores a dizer que as crianças não estão a aprender nada, sinto uma profunda tristeza pois é sinal de que já se esqueceram da importância do "não fazer nada" na infância e que não é apenas na escola que se fazem aprendizagens. 

Quando percebo que há tanta gente a querer desconfinar à pressa, muitas com teorias da conspiração a fundamentar as suas razões, outras porque estão fartas de estar em casa, sinto que algo está a falhar como sociedade pois não estão a pensar no bem estar das nossas crianças. 

Quero muito voltar à escola, mas com segurança e tranquilidade que sossegue também o meu coração de mãe. Imaginar crianças pequenas com máscaras, numa escola asséptica e sem contacto, jamais permitirá desenvolver a empatia. Se nos pedem para aguardar um mês, que seja um mês, ou dois, mas regressemos em segurança e sem receio que nos enviem de volta para casa a cada semana, sem receio de visitar os avós, sem receio de abraçar, sem receio de conviver... 

Querem ensinar tanto às crianças? Aprendam primeiro os adultos a esperar! Aproveitemos pelo menos para reaprender a viver lentamente e com menos. 

É do aborrecimento que nasce a criatividade, também não precisamos que a E@D nos ocupe o dia inteiro com tarefas dirigidas. As crianças brincam! E, a brincar, aprendem! Nem só de matérias escolares é feita a aprendizagem. 

Por cá, andar de baloiço sem que alguém nos empurre, brincar sozinha lá fora e andar de bicicleta sem rodinhas são tão importantes como a leitura fácil e fluída. 

Passar a tarde inteira a brincar ao ar livre e entrar em casa ao anoitecer (com a roupa suja, com os pés cheios de areia, nódoas negras nas pernas mas com um sorriso no rosto) é das experiências mais importantes que podemos proporcionar aos nossos filhos. É dar-lhes responsabilidade, autonomia, capacidade de resolução de problemas, noção de tempo, limites... 

Já li sugestões sobre todos repetirem o mesmo ano escolar, o que não faz qualquer sentido pois seremos sempre todos diferentes, quer em casa, quer na escola. Repetir o mesmo ano seria desrespeitar, mais uma vez, as crianças e as suas famílias, sobretudo aquelas que se esforçaram tanto para se adaptar à esta realidade. 

E que tal reflectir sobre o papel da escola, as metodologias, adaptar currículos e conteúdos? Viver mais cá fora e menos dentro? 

Desconfinemos com consciência e responsabilidade, protegendo os mais pequenos, pois é neles que vive o futuro! 

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