O "trabalho" das crianças é brincar e não pode medir-se apenas pela quantidade de trabalhos produzidos em papel!
Eu sei que ainda há famílias que se baseiam nos "portfólios" que trazem dos jardins-de-infância para formarem uma opinião sobre o trabalho dos seus Educadores. Há quem compare o número de "fichas" (daquelas modelo standard) 🤢 para perceber se a criança trabalhou muito ou pouco durante esse ano...
Caros leitores (poucos, a contar pelo número de subscritores da página), o primeiro mito a desvendar é sobre o "trabalho" da criança. O trabalho da criança é brincar! É a brincar que ela aprende tudo aquilo que necessita para se desenvolver na fase em que se encontra. O que pode fazer o Educador? Cuidar do ambiente, enriquecê-lo, trazendo propostas diferentes que permitam possibilidades de exploração concretas, interagir e observar.
Lamento informar que nem todas as aprendizagens se podem guardar num portfólio de trabalhos para que os pais possam folhear no meio ou final do ano. Além disso, é humanamente impossível registar tudo por escrito... Nem todas as crianças gostam ou se interessam por expressar graficamente sempre que lhes é proposto, nem o Educador dispõe do tempo suficiente que lhe permita escrever sistematicamente sobre tudo aquilo que observa de uma criança num dia.
O que faz então o Educador? Observa, se for como eu, muitas vezes tira fotografias para se lembrar mais tarde e vai avaliando, comparando os progressos de cada um, de acordo com o seu próprio ponto de partida. Por vezes, é necessário tomar notas de algumas observações mas a avaliação não tem necessariamente que ser apenas um documento escrito formal.
É importante estabelecer uma relação de comunicação com as famílias e conversar sempre que necessário, pois outro dos mitos é aquele que diz que "a família educa e a escola ensina". Não, toda a comunidade Educa e a criança (e os adultos) é que aprende, sempre, seja em que contexto for. O ser humano está em constante aprendizagem! O contexto escolar deve, no entanto ser potenciador de aprendizagens significativas, diferenciadas, interessantes e enriquecedoras.
Então, para que precisamos dos Educadores de Infância? Na verdade, precisamos da sua visão especializada para observar o desenvolvimento único de cada criança, proporcionar ambientes educativos que estimulem o interesse e o desenvolvimento das "suas" crianças, registar momentos significativos para a vida das criança e partilhá-los com as suas famílias, permitindo que cada um se desenvolva ao seu ritmo e de acordo com os seus interesses. Afinal, não somos todos iguais!
Mais importante que os papéis e registos iguais para todos, em papel, são as conversas, as interações, os afectos... E isso, não se pode ver no volume de fotocópias!
Às famílias...
Numa fase em que estamos todos em casa, concerteza que as famílias também recebem sugestões de atividades e algumas podem não ser do interesse de todas as crianças (porque a Educação de Infância à distância não existe). A maior parte das crianças terá o mais importante, afecto, proteção... Por isso, aproveitem o que vos fizer sentido e de resto, deixem-nos brincar, que é o mais importante! Não se deixem contagiar pela produção de trabalhos em massa, cuidem do vosso ser único e especial para que seja isso mesmo, um ser humano único! Afinal, a casa não é a escola (para a maioria das crianças), têm os seus próprios ritmos e rotinas.
Comentários
Levem este texto aos pais.
Nunca é demais!