Brincar é coisa séria!


Esta segunda edição do "Brincar é coisa séria" assumiu contornos um pouco diferentes da anterior, foi menos formal e, na minha opinião, mais produtiva que a do ano passado. Participei na sessão para profissionais, sobre a importância da integração sensorial na aprendizagem e gostei! No entanto, penso que só aparece neste tipo de iniciativas quem já valoriza o brincar e as brincadeiras que permitem receber sensações através dos nossos sentidos. De qualquer forma, foi bom encontrar tantas Educadoras de Infância e Ajudantes de Acção Educativa envolvidas. Não pude estar presente na sessão com o Dr. Hugo Rodrigues mas acredito que tenha sido igualmente interessante, tal como no ano passado.

Esta iniciativa foi uma boa oportunidade de me fazer reflectir sobre "o brincar", o que significa, a influência do brincar na pessoa que sou hoje, a importância que dou ao brincar na vida das nossas crianças e a sua valorização como "transmissor" de valores e conhecimentos intergeracionais.

Brincar no exterior sim, mas como hoje, não como antigamente!
Já todos percebemos que os tempos mudaram e nós mudamos com os tempos...Considero que é importante brincar no exterior mas com segurança. Se não tivermos em consideração o que aprendemos enquanto crianças, com os nossos erros, não teríamos construído novos conhecimentos sobre as questões da segurança. Desculpem-me os defensores do "brincar na rua como antigamente" mas não acredito que o caminho seja esse. Há hoje mais trânsito e mais perigos (ou mais consciência do perigo). 

Cresci sem telemóvel, brinquei na rua e fui a pé para a escola com os amigos. Tive sorte, mas não vou esquecer o primo que morreu atropelado pelo comboio, o vizinho que morreu eletrocutado por cabos de alta tensão, a criança que foi atropelada por um autocarro à minha frente, (enquanto eu esperava pelo sinal verde para atravessar) ou os colegas da escola que espetaram pregos ferrugentos nos pés... Seria inconsciente se não tivesse aprendido nada com isto! A humanidade evolui porque constrói conhecimento sobre o conhecimento existente. Se hoje é obrigatório o uso de cintos de segurança e cadeiras específicas para crianças nos automóveis, é porque aprendemos alguma coisa com o passado... Brincar no exterior sim, mas com segurança!

Ao ar livre
Os nossos filhos são o nosso bem mais precioso e devemos proporcionar-lhes experiências valiosas para o seu desenvolvimento, dos quais destaco a interação com o ambiente. Nem todos os pais podem ir buscar os filhos à escola cedo e depois deixá-los brincar no jardim ou no quintal lá de casa... Mas ao fim de semana,ou nas folgas, podem! Por favor, peguem nas mochilas e façam passeios e piqueniques. Deixem-se de shoppings! As crianças de hoje também podem brincar no exterior, sozinhas, desde que o ambiente esteja minimamente seguro(sem poços, coisas afiadas ferrugentas, cabos de alta tensão, veículos motorizados...). 
É também aqui que as escolas falham, porque cada vez mais vejo cimento e menos espaços verdes ou em terra batida. Senhores que desenham escolas, não podemos procurar bichos (joaninhas, escaravelhos, formigas ou outros insectos) e aprender sobre eles, se não existirem nos recintos escolares!!! Não se pode desenhar com paus ou pedras nos chãos de cimento... E as árvores? São uma espécie em extinção nas escolas, mas saibam que são muito úteis para fazer sombra, para trepar, para reduzir o excesso de carbono, para dar frutos ou até para albergar uma casa! 

Em família
Há sempre um bocadinho de tempo para brincar com os nossos filhos, para construir memórias. Talvez nem todos os pais o tenham feito quando eramos crianças, mas eu tive essa sorte. Talvez eu valorize tanto o brincar porque brinquei e os meus pais brincaram comigo! Tive muitos brinquedos, uma sala de brincar, livros, caixas de cartão e panos para construir casas no quintal, debaixo de uma árvore. Jamais esquecerei as histórias inventadas que o meu pai me contava antes de ir dormir, aquelas que a minha mãe me lia, as canções de embalar, os jogos de dominó, do ganso, bingo e monopólio em família. Ah, e o escorrega do meu avô? Não há nenhum igual, porque era ele que se punha de joelhos ao lado do braço do sofá para escorregar pelas suas costas. Também iamos ver a lama e passear só porque sim! 
Não podemos negar estas memórias às nossas crianças, por isso, podemos não ter muito tempo, mas precisamos de arranjar tempo para brincar uns com os outros. 

Na Escola
Mais uma vez, a escola está a falhar... É que "brincar", não é só no jardim de infância. A infância e o brincar não terminam no momento em que iniciamos a escolaridade obrigatória. E nos dias de hoje, não há tempo nem espaço para brincar na escola, que termina às 17h30m e ainda manda trabalhos para casa. Perdoem-me os futuros professores da minha filha mas vou empenhar-me na reserva de tempo para brincar, só brincar... 

Nas cidades
Não sei como é viver num apartamento... Mas acho que não ia gostar! As crianças das cidades também precisam de espaços para brincar no exterior e não são só aqueles parques coloridos com aquelas estruturas... Precisam de espaços a sério! E verdes! Prometo escrever sobre esta ideia numa próxima oportunidade...

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