Os Portugueses não têm mais filhos porque não têm condições, percebem?

"Mães com filhos que se juntam para conversar" - Íris (4Anos) - trabalho livre em plasticina
Estou cansada das notícias sobre a baixa taxa de natalidade dos Portugueses... É um problema, mas que culpa temos nós (a minha geração)?

Os portugueses procriam menos que antigamente, é certo, mas a população mundial aumenta. Logo,  a questão é simples de resolver, reorganiza-se a população e na média ficamos todos bem. Aceitem-se os migrantes (que venham para trabalhar e pagar impostos como nós).

Não temos mais filhos porque os tempos mudaram e hoje em dia não é assim tão importante a força de braços, uma cabeça que pensa vale por vários pares de braços. 

Hoje em dia, nós, mulheres, temos filhos porque queremos e quando queremos. Antigamente não era bem assim.

Não somos uma geração egoísta, somos uma geração que trabalha muito para ter o que tem. 

Somos uma geração que atravessou uma crise económica e pensou bem antes de trazer filhos ao mundo, mesmo sem ter a certeza de que lhes conseguiria dar o mesmo ou mais do que aquilo que tivemos enquanto crianças. É justo que queiramos o melhor para as nossas crianças.

Gostamos de dar aos nossos filhos tudo o que eles merecem, incluindo o TEMPO! Tempo que não temos porque entre o trabalho e os afazeres domésticos não sobra muito... 

Invista-se em políticas que privilegiem o tempo em família. Em Portugal, ainda se acredita que quanto mais horas se trabalha mais se produz, que os melhores são os que saem mais tarde do serviço e fazem horas extras... Mas não são! Esses, são aqueles que não valorizam as famílias e que muitas vezes nem ligam aos filhos...

Quando éramos crianças, os nossos avós estavam por casa ou reformados, hoje em dia trabalham e só contamos connosco (e com as Instituições).

Não existem actualmente políticas que incentivem a natalidade! 

Alguém que ganhe um pouco mais que o salário mínimo já não tem direito a abono e as creches são ao preço do ouro (daquele mais caro)! Os escalões são uma treta... Quem mais trabalha, mais paga! E não é preciso ganhar muito para chegar ao escalão máximo.

Pelo que vejo por aí (não consultei estatísticas) os que vivem de apoios sociais tem mais filhos do que aqueles que optaram por uma formação académica superior, na qual investiram tempo e dinheiro. Já toda a gente percebeu as diferenças, ou não?

A verdade é que não se pode ter tudo e a vida é feita de escolhas. Temos menos filhos porque pagamos tudo enquanto se beneficia sempre quem não paga nada e raramente ou nunca contribui com trabalho e descontos...

A escola a tempo inteiro é outro atentado à parentalidade. Aos 6 anos temos que entregar os nossos filhos à escola e ainda trazer trabalhos de casa. Mas afinal, quem decide o que fazer em casa, não deveriam ser as famílias? Onde está aqui a liberdade de escolhas, o respeito pelas diferenças e pelas opções familiares?

Porque é que em vez de tanto tempo na escola não se apoiam mais as praticas desportivas?

Para a vida que as crianças têm hoje em dia não vale a pena ter mais filhos, pois não? Parece que somos apenas números ou peças de uma fábrica numa linha de montagem. Só que não somos todos iguais!!!

A parentalidade não se resume às (curtas) férias, que às vezes nem chegam aos 22 dias úteis porque as usamos quando estamos doentes, para não perdermos dinheiro. mas é preciso tempo para dedicar aos filhos. Tempo, que não temos!

Quando tivermos direito a ficar em casa (sem ter que ir a juntas médicas) pelo menos 2 meses antes do nascimento, licenças de 1 ano, pagas a 80% e dos 12 meses ate aos 3 anos a 25%,  horários de trabalho compatíveis com a maternidade/paternidade, redução de horário até aos 3 anos, opção de jornada contínua para poder sair mais cedo, creches públicas (não IPSS'S) ou então que atribuam aos pais que optam por ficar em casa a comparticipação de 250€ que actualmente atribuem às instituições, aí sim, talvez tenhamos mais filhos.

Se aos 25% de uma remuneração base juntarmos os 250€ mensais da comparticipação do estado às creches semi-privadas, talvez algumas famílias ponderem crescer em número... 

E para os pais professores, acabem-se com as horas extras não remuneradas(festas, reuniões e afins) fora dos horários semanais e usem os tempos não letivos das interrupções para esses fins. Não nos mandem para o desemprego e deixem-nos trabalhar, ok? Não é em 3 dias que avaliamos 25 crianças de uma sala!!! Ah, e não se esqueçam que também somos pais e mães!

Talvez com incentivos, haja quem pondere ter mais filhos...

Talvez, porque cada um sabe de si e há quem não queira ser pai ou mãe e como sociedade democrática, só temos que respeitar as decisões de cada um.

Os tempos mudam e as sociedades também, criem-se condições que promovam mudanças e não venham com mais do mesmo! 

As consequências do investimento na formação integral dos cidadãos também são estas, uma maior consciência do nosso lugar no mundo de Hoje, das nossas capacidades e limitações aos diferentes níveis.


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